segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

TRATADO DA VAIDADE...


(foto da wikipédia)



Muitas vezes, cruzamo-nos na rua com alguns amigos (?) que, exibindo algum êxito ou melhor desempenho nas diversas etapas que compõe nossa caminhada, ou que foram mais ou menos bafejados pela sorte, nos olham com sobranceria, com um ar superior, como se a outra galáxia pertencessem…Para trás deixam (quiçá propositadamente) todo um edifício comummente construído, assente em alegrias, tristezas, tempestades, bonanças, sonhos, pesadelos, solidariedades, guerras, paz, paz e…saudade… É evidente que o carácter é um “ente psíquico” de difícil, senão impossível, lapidação…Mas, caramba!.. Para eles, este meu POEMA EM “P” ou o tratado da vaidade…


Tenho Pena das Penas que Pesam
Aos Pássaros que Passam sem Penas…
Patético, Pavoneado Perfume de Pureza
Porém mais Podre, Pestilento, mais Porco
Do que as Próprias Pocilgas dos Porcos

CPereira 2009-12-28

sábado, 26 de dezembro de 2009

DE TANTO GOSTAR DE TI...


Eu quis-te favo de mel
adocicando a manhã,
trago doce, que não fel,
sumo de orvalho e romã…

Quis-te divindade grega
em pedestal de marfim,
enigma de rosa negra
apenas gravado em mim.

Quis-te musa inspiradora
de mim , pobre trovador.
Quis-te fonte geradora
de tanta luz e calor.

Quis-te um oásis perdido
no turbilhão de montanhas
que me trazem escondido
de epopeias e façanhas

Porto de abrigo seguro
em tempestades de areia,
antes que deserto escuro
quis-te canto de sereia

Por mares jamais navegados,
quis-te farol ,luz de esperança
de rumos desencontrados
em busca duma bonança.


Quis-te lírio ou violeta
desabrochando em flor
versos tristes dum poeta
em cantos de luz e amor…

Cantos de amor tão intenso
por quem eu tanto sofri.
Eu quis-te, assim, tanto, tanto
que por tanto te querer
acabei por te perder
sem nunca chegar a ti…
De tanto gostar de ti…


CPereira 2009-12-26



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ONDE PARAM OS PRESÉPIOS?



Perdoem-me a insistência. Definitivamente isto não é o que era. A “Coca-Cola” ou “Pepsi” ou qualquer outra multinacional, empurraram-nos para um beco sem saída…Lá se foram as batatas, o bacalhau, a aletria, as rabanadas e os formigos. Qual meia na chaminé? Qual Menino Jesus à meia-noite? A dramática, pura e intensa incerteza da noite do Natal (calma e bela, alva e suave) foi substituída pelo enfadonho e previsível desfile de pais natais a quem as prendas já são feitas por encomenda e com uma antecedência razoável…não vá o “diabo” tecê-las. E os presépios? Que resposta damos ao apelo do pobre de Assis que nos cinzelou na alma tão cálida, ternurenta e significativa escultura? Apenas o vazio…imagens estilizadas e “fossilizadas” que nada têm a ver com a mensagem que pretendem transmitir. (Tragam-me de volta as ovelhitas, os pastores, os magos, os anjos, a vaquita, o burrito, a Senhora, o S. José e o Menino feitos em barro de Barcelos, cuja presença nas feiras eram verdadeiros arautos do Natal!...).

Eu sei que os tempos mudaram. O homem cada vez mais se moderniza e tem ao seu dispor meios que o aproximam a passos largos da perfeição. E o que restará depois?
Perdoem-me este sentido “retrógrado”. Perdoem-me esta manifestação de busca duma “ignorância” estranhamente (será?) feliz.
Com imagens genuínas “made in Barcelos” um presépio idealizado pela Dina (minha filha), com os votos dum Bom Natal. Ah!...e uma versão que dizem original da “Stille Nacht”.
2009-12-23
C.Pereira

domingo, 20 de dezembro de 2009

NOVA PARTIDA


Hoje decidi partir…

Pus-me em viagem rumo ao sul.
Esperei horas, dias…uma eternidade.
Perguntei ao mar por notícias tuas
E o mar nada me respondeu.
Decidi partir …para o sul
Naveguei oceanos… dobrei cabos…
Sempre com ganas de te encontrar...
Parti para o sul mas não te encontrei.
Apenas esbarrei com o horizonte
Tentei fazer a ponte que chegasse até ti.
Tu, estavas do outro lado
Transbordando felicidade…
Deixa-me concluir a ponte.
Deixa-me rasgar esse horizonte…
20.Dez.2009
C.Pereira

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

MENINO-SEM-NOME



MENINO-SEM-NOME


Aproxima-se o Natal. Uma época onde quase tudo é direccionado para as crianças. Porque elas estão no “centro do mundo”, tudo é estudado a pormenor para que nada lhes falte (não fossem elas uma “enorme fonte de receita” um “autêntico motor” duma economia cada vez mais desequilibrada e a inclinar-se só para um lado). Mas será sempre assim? É claro que não…Há centros e centros (os da terra e os Comerciais) e há os arredores…os marginais…os proscritos. Dizia o poeta: “mas as crianças, senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?..
Em 16 de Novembro de 1974, e porque já se respirava um pouco de liberdade cá por estas bandas, publiquei num boletim do MJTB, o seguinte poema que escrevera antes, inspirado numa música eterna do Zeca Afonso – o menino do bairro negro. Poderei estar a ser um pouco hipócrita. Mas julgo que a melhor prenda de Natal que podemos dar a estes meninos é não metermos a cabeça no meio da areia, saber que eles existem, e aproveitar todos os meios para os dar a conhecer, para que quem de direito erradique de vez esta situação que nos envergonha. Aqui o meu pequeno contributo…Para eles um Bom Natal ou outra qualquer coisa que seja mesmo boa…



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

UMA CARTA PARA MANUELA......

Um dia uma jovem, francesa, proveniente algures de Marselha, de mochila às costas percorreu estes caminhos em busca da paz que se respirava lá para os lados do Gerês. No decorrer dessa aventura fez uma pausa de algumas horas aqui na vila e não demorou muito tempo que estabelecêssemos um patamar de confiança que nos permitisse conversar como se de há muito tempo nos conhecêssemos. A determinada altura perguntou-me se eu tinha “erva”. Fiquei a saber que “Manuela” (nome fictício com que baptizei a minha amiga) se drogava. Disse-lhe que não e ofereci-lhe um cálice de”Porto” por ela me ter dito que apreciava este nosso genuíno néctar dos deuses. Depois de várias horas de conversa, disse-me que tinha de partir mas que voltaria. Convidei-a para mais um encontro às onze horas, hora em que estava disponível. Só que “Manuela” nunca mais apareceu. Talvez tivesse encontrado a “erva” noutro local. Lembro-me do seu corpo esguio, cabelo cor de violeta, e a face sardenta, vestindo uma roupa muito “hippie”, muito “woodstock”. Sinceramente fiquei com pena de ela não ter aparecido. Na altura escrevi-lhe esta carta, que publiquei no pequeno boletim do nosso MJTB (Movimento da Juventude de Terras de Bouro).


E num acampamento com os amigos no antigo Parque de Albergaria (na estrada da Bouça da Mó), lá carreguei a minha viola e ainda lhe dediquei esta canção:

You where a liar

When you told me
you would come at eleven.
I understand you.
There is no time
In our life
Without time.
Our life is over
As it’s time.
Go away drinking “Porto”.
I stay smoking “liamba”.
We search the same thing
Our “Promised Land”

Tal como D. Sebastião, Manuela desapareceu… numa manhã de nevoeiro. Não foi nenhuma incursão de conquista que a trouxe até aqui e não deixou poetas chorando a sua ausência…ou falta de presença. Manuela, pura e simplesmente desapareceu. Talvez tenha encontrado “a sua terra prometida”. Eu fiquei com a terra possível. Apesar de tudo A MINHA TERRA…Adieu !... Manuela, onde quer que estejas…

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NO FUNDO DO BAÚ....Natal 1959(?)....




Algures num Natal  em 1959....


Lembro-me…Na casa do “Airinhas”. Eram muitos. O pai ("Se" Aires), a mãe ("Se" Rosa), muitos filhos, alguns netos…. A maior parte já partiu. Enquanto na lareira “open space”  a “Se” Rosa aconchegava as achas na fogueira, eu e o Airinhas fugíamos para o sótão. Tínhamos de atravessar uma portinhola que dava acesso à “divisória” em madeira (o forro) , entre a sala e o telhado. Sobre aquelas tábuas,  roídas pelo tempo ,  no meio de tantas teias de aranha, sentamo-nos e começamos a jogar ao “rapa”. O troféu eram os pinhões das pinhas colhidas num pinheiro manso algures de Chorense. Aquele prémio quintuplicava o melhor dos actuais “euromilhões”. Não sei quem ganhou ...nem me interessa. Hoje ganhei eu a felicidade de recordar aquele momento…Afinal valeu a pena ter chegado até aqui… (Um abraço para o Airinhas no Hotel D. José da Quarteira)

sábado, 5 de dezembro de 2009

NO FUNDO DO BAÚ...Ainda o PNPeneda Gerês


Estamos tramados. A "profecia" parece querer cumprir-se...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

POEMA PARA VALÉRIA

PARA A AMIGA VALERIA, MULHER BRASILEIRA DE PIRACICABA-S.PAULO, PINTORA, ESCULTORA, ”MULHER LUTADORA, EDUCADORA …MESTRA” AMANTE DO AZUL,DA PAZ, DA SUAVIDADE…UM POEMA:

A Pedra, a estátua e a escultora…


Peguei numa pedra.
Despi-a.
Afaguei sua nudez
cinzelando-lhe na alma
os rios de dor e calma
que escorriam de meu corpo…
Dei-lhe forma…dei-lhe vida…
Sonhei-a…
Cansado, baixei meus braços.
Poisei o cinzel, limpei meu rosto.
Enxurros de suor inundaram o chão…
Pingos de meu sangue, salpicaram a pedra,
PAREI….
Olhei de frente minha obra
e CHOREI…
Um pedaço enorme de mim
Imortalizara-se naquele frio pedregulho…
C.Pereira
20.03.2008

domingo, 29 de novembro de 2009

NO FUNDO DO BAÚ... liberdade para Cândida



UMA CORÇA CHAMADA CÂNDIDA...
Nos inícios dos anos oitenta, lá para as bandas do Parque Nacional da Peneda-Gerês ( ou Peneda-Xurés)já se lutava pela defesa da vida selvagem. Sem cimeiras, conferências ou manifestações afins, os habitantes destas inóspitas mas sempre belas e cada vez mais apetecidas paisagens, já sabiam lutar e preservar o que era seu. Tivessem-nos sempre ouvido e talvez o legado que eles , APESAR DE TUDO, nos deixaram, ainda estivesse mais puro...Respeitem-nos...Não somos "bichos do Parque"...
O que hoje existe, não existe por acaso...Os nossos avós deixaram que chegasse até nós E SÓ CONNOSCO O PARQUE SOBREVIVERÁ...

sábado, 28 de novembro de 2009

PERDIDO NO MAR

Fui marinheiro perdido
num barco sem navegar…
Fui um cavaleiro errante
em terras por conquistar…
Fui sol, fui chuva, fui vento
em campos por cultivar…
Fui tudo, de tudo um pouco
quase me senti um louco
De tanto te procurar…

Onde pára o teu sorriso,
teus lábios de encantar?
Porque me fazes sofrer,
tanto tempo a esperar?
Condenaste-me às galés?
Assim perdido no mar?

Ao menos deixa que cante
tua canção de embalar:

Teus olhos castanhos,
pintaram as algas,
as algas do mar…
Teus cabelos soltos,
voaram no vento
na brisa do mar…
Teu rosto macio,
o teu corpo esguio
são calma, bonança,
sossego do mar…
E eu sou a galera,
Perdida nas ondas,
nas ondas revoltas,
irei naufragar…
C Pereira, 1979